Dia do arquivista: aproveitemos para pensar



Desde a década de 1970 é comemorado o dia do Arquivista, no Brasil. A data remete a um projeto proposto pelo deputado Marquês de Olinda (20 de outubro de 1823) que consistia na inclusão de um Arquivo Público no Brasil, cuja instituição viria apenas alguns anos depois. No entanto, a data marca um momento importante, que sinalizava a intenção de institucionalizar o patrimônio arquivístico brasileiro e, por essa razão, foi escolhida, pela Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB) para representar o dia do profissional responsável pelos arquivos.

Hoje, quarenta anos depois, os arquivistas brasileiros têm muito que comemorar: uma lei que regulamenta a profissão (6.546/78), um Arquivo Nacional e um Conselho Nacional de Arquivos, uma Legislação Arquivística brasileira, dezesseis cursos superiores de Arquivologia oferecidos pelas Universidades Federais e Estaduais em todo país, diversas associações profissionais, um sindicato, uma norma brasileira de descrição arquivística e inúmeros concursos públicos sendo abertos Brasil a fora, oferecendo salários que vão de 1.500,00 a 15.000,00 reais (com pós-graduação nos mais altos escalões do poder público).

No entanto, não é apenas na área pública que o arquivista tem ganhado espaço. As instituições privadas também começaram a perceber sua importância nesses últimos anos, não somente como simples guardador de papeis, mas como gestor da informação e analista de documentação, e não é raro encontramos, no mercado, vagas que requerem arquivistas para trabalhar nessas especificidades.

As associações e o Sindicato também representam um papel importante e, diria, fundamental, para o reconhecimento do profissional arquivista. Quando um concurso para o cargo é aberto pedindo formação em biblioteconomia, ou apenas segundo grau, essas instituições logo entram em contato com o organizador, defendendo a regulamentação do edital, e o reconhecimento da profissão. É muito bom saber que podemos contar com pessoas que se preocupam em preservar e divulgar nossa profissão, que fazem disso uma luta diária, que nunca se cansam e não desistem.

O mesmo pode ser dito no campo acadêmico. Temos que agradecer aos professores de Arquivologia, Biblioteconomia, História, Direito, Letras, Administração, Ciência da Informação, enfim, todos aqueles que, mesmo não sendo formados na área, colaboraram para a elaboração e instituição dos primeiros cursos superiores de Arquivologia, trazendo novidades de outros países, estudando, aprofundando as discussões para constituir uma arquivística brasileira. Será que conseguimos?

Eu diria que sim. A Arquivologia brasileira é constituída, hoje, por uma junção, uma reunião de correntes teóricas de vários países, da Europa à América do Norte. Fomos capazes de absorver o melhor de cada lugar, de aplicar os métodos, os modelos, os princípios, sem preconceitos, sem medo. Afinal, o que tínhamos a perder?

Hoje, temos muito a perder. Não sei se é porque tenho certa tendência às questões mais teóricas e acho que sempre temos que estudá-las a fundo para podermos saber aonde vamos com essa prática toda, mas a questão é que, ao contrário do que foi sentido nos últimos 30 anos, a Academia não tem produzido conhecimento o bastante. Ainda estamos estudando os autores da década de 70, ainda estamos discutindo a realidade do passado. Não estamos produzindo, não estamos publicando, não estamos avançando. Por quê? Porque temos professores acomodados, professores que não se preocupam com a construção teórica da área. E eu falo dos professores doutores que teriam maturidade intelectual suficiente para contribuir, que criticam a velha definição de documento imparcial e natural de Jenkinson, mas que não são capazes de escrever um artigo criticando e expondo os contra pontos dessa e de outras definições. Por outro lado temos professores com apenas a graduação em Arquivologia e que, têm fôlego, têm vontade, mas falta a oportunidade ou a maturidade intelectual. Destaco, aqui que falo no geral, com base no que tenho visto durante esses anos, indo a Congressos de Arquivologia e estudando o material publicado. Sei que temos professores doutores que publicam, que estudam, que se preocupam com a Arquivologia, ao mesmo tempo em que temos professores graduados que têm muita maturidade para contribuir para a construção teórica da área.

Enfim, a culpa é de quem? É do governo que abre cursos de Arquivologia sem estrutura, sem professores capacitados, com baixos salários, pensando em suprir a demanda dos concursos públicos, para que, no futuro, possa ser dito: O Brasil consegue formar não-sei-quantos-arquivistas por ano para suprir as necessidades! Ou é das Universidades Públicas que vêm na implementação dos cursos de Arquivologia uma maneira de conseguir mais recursos?

Devemos, sim, nos vangloriar pelo reconhecimento que a sociedade brasileira e o governo têm começado a nos dar nos últimos anos, requerendo nossos serviços, entendendo a importância de um profissional da informação. Mas devemos nos perguntar: queremos formar arquivistas ou profissionais? Porque há uma grande diferença entre esses dois termos. Após quatro ou sete anos de faculdade, após o cumprimento dos créditos necessários, o aluno de Arquivologia sairá de lá arquivista, o que não significa dizer que será um profissional, uma pessoa capaz de gerenciar, de organizar um arquivo. E se não temos professores capacitados para formar um profissional, que tipo de arquivista teremos?

A Arquivologia brasileira ganhou muito desde a década de 70, mas ainda está caminhando, ainda é uma criança. Ainda há muito a ser feito. Pelas associações, pelo Sindicato, pelos profissionais arquivistas, pelos professores de Arquivologia. Enfim, temos que encontrar um equilíbrio.

Aproveitemos o dia 20 de Outubro, dia do Arquivista, para pensar sobre isso.

Natália Tagnoli

Achei muito interessante esse texto do Blog ( http://ladiplomatica.blogspot.com/ ) e resolvi compartilhar com todos.

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